Depois de uma semana, finalmente, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto local veio desobstruir a rede que forçava o retorno do dejeto para dentro das casas e lojas próximas. Até então aquela que é uma das principais vias do bairro se portava como um pequeno curso de esgoto a céu aberto, cuja origem principal era a garagem do vizinho, ocupando a sua garagem e a oficina do lado nos picos de fluxo.
Não é a primeira vez que os problemas de saneamento afetam aquela que é uma das cidades que mais arrecada recursos do Estado. Nem parece que o orçamento de um ano inteiro de muitos municípios de tamanho não diferente seja arrecadado alí em um único dia do ano, 365 dias por ano e 366 dias em ano bissexto, afinal, a mineração não para. Tão acostumados com a situação, para resolverem o problema do esgoto, enviaram um caminhão pipa, como se o dejeto na garagem causasse algum problema no abastecimento. Toda a arrecadação municipal parece, a princípio, ser convertida em serviços de má qualidade. É convertida em filas nos sistemas públicos de saúde colapsados, nos buracos das ruas que se assemelham às áreas mineradas na escala possível dentro do efetivo municipal, ruas desestruturadas, estradas sem conservação ou segurança, poeira da cor da hematita explorada impregnada para todo lado… O custo de vida altíssimo obriga a todos terem uma atividade bem remunerada para pagar as contas básicas ou submeter-se à um barraco numa invasão dormir embaixo de uma ponte ou ainda, colocar as crianças em busca de alguma atividade que diminua a carga financeira familiar. Um ciclo vicioso forjado nos tempos da Colonização, baseado na mão-de-obra escrava e na perda de territórios tradicionais para os interesses de uma elite que sequer ali reside.
Aos donos do poder, interesses ilimitados. Os políticos locais também os servem como terceirizados, como carrapatos presos ao couro de um animal incomodam, mas são aceitos. Ao povo ficam as mazelas do sistema, seus territórios sulgados, estropiados, esburacados e feitos de depósitos de rejeitos; suas terras impossibilitadas de cultivo; suas águas repletas de elementos tóxicos, sem vida; e suas vidas… Que vida? Caso não sejam frequentadores dos buracos da mineração por livre e espontânea pressão, restará, mais cedo ou mais tarde, um outro buraco, depois de parar de respirar. Sem mais opções.
Isso é progresso nas Gerais.