prosa

O Dia Continua

A noite não foi nada agradável. Foi curta para o sono acumulado. Não dorme a tempo. Quando o despertador tocou, levantar lhe parecia um suplício, precisava de ao menos umas duas horas a mais. O café provavelmente não será suficiente para o alerta necessário durante o dia. Para piorar sua manhã, as notícias às quais corriam o olho não lhe agradava. Pareciam-lhe um grande compêndio de tragédias e de consequências de ações burras da humanidade.

Há muito deixara de ouvir o noticiário local porque ele lhe parecia uma coleção de notícias ruins, parecia que o meio de comunicação ao qual prestava a atenção, seja o rádio ou o jornal local, iriam escorrer sangue com tantos acidentes e crimes cometidos por pessoas de classe baixa da periferia, como se fossem elas os problemas únicos da cidade. Nenhuma crítica à administração local, um grande anunciante, ou dos problemas reais que levaram à situação de abandono das pessoas que cometem a imensa maioria dos crimes que a elas são atribuída. Nenhuma críticas à crise imobiliária que obriga famílias inteiras a escolherem entre comer, pagar o aluguel, colocar a rodos da casa que puderem para trabalhar em condições por vezes análogas à escravidão, em vez de educar seus filhos adequadamente. Nenhuma crítica aos capitais nacionais e/ou estrangeiros que exploram nossos recursos e destroem as comunidades. Nenhuma crítica à violência seletiva que tem vítimas com endereço, cor e classe social definida. Aparentemente, a imprensa tem seus próprios propósitos.

Não se houve falar nas coisas belas que a humanidade produz. Não nos meios convencionais. Ainda bem que existem escritores e poetas para as verdadeiras críticas e para nos lembrar que a vida continua, que ela é bela e carece de nós para que continue a sê-la. O sono bateu, mas o dia continua. Chega de sonhar acordado.

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Contemplação Matinal

O dia clareou como sempre acontece nessas manhãs frias de inverno: o sol avermelhou o céu pouco a pouco, ainda com preguiça, se extendendo por detrás da serra, ao Leste. Já não era tão cedo, o café dos dias corriqueiros já estava pronto. Fosse em outra estação, obsoleto já estaria queimando, mas não nessa. Àquela hora ele mal se esticava no horizonte delimitado por aquela serra não muito distante.

Os raios penetravam fundo casa a dentro, a roupa a máquina tinha lavado durante a noite. Enquanto tomava café e olhava o nascente, planos de estendê-la antes da saída para o serviço estavam sendo elaboradoa, e aí se dera conta: como encarar o trajeto até o trabalho? A motocicleta desanimava com a friagem; o carro acrescentaria algo mais no orçamento que talvez não conseguiria cumprir; o transporte público, com todas suas voltas, além de desconfortável era provável de não chegar no horário, além de complicar a saída do almoço e ainda mais a volta para casa, que seria bem mais longa. A bicicleta lhe pareceu a opção mais acertada, ainda dispensaria a caminhada após a chegada de casa. Descansaria.

A xícara emitia vapor do líquido escuro em seu interior. Um queijo frescal já meio amadurecido, por mais que fosse preterido ao que sairá da forma, acompanhava a bebida. A contemplação matinal regada à sua dose primária diária de cafeína chega ao fim com o sol ainda no meio da sala. Novo dia começa.

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Lua do dia

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Bom dia!