prosa

O Dia Continua

A noite não foi nada agradável. Foi curta para o sono acumulado. Não dorme a tempo. Quando o despertador tocou, levantar lhe parecia um suplício, precisava de ao menos umas duas horas a mais. O café provavelmente não será suficiente para o alerta necessário durante o dia. Para piorar sua manhã, as notícias às quais corriam o olho não lhe agradava. Pareciam-lhe um grande compêndio de tragédias e de consequências de ações burras da humanidade.

Há muito deixara de ouvir o noticiário local porque ele lhe parecia uma coleção de notícias ruins, parecia que o meio de comunicação ao qual prestava a atenção, seja o rádio ou o jornal local, iriam escorrer sangue com tantos acidentes e crimes cometidos por pessoas de classe baixa da periferia, como se fossem elas os problemas únicos da cidade. Nenhuma crítica à administração local, um grande anunciante, ou dos problemas reais que levaram à situação de abandono das pessoas que cometem a imensa maioria dos crimes que a elas são atribuída. Nenhuma críticas à crise imobiliária que obriga famílias inteiras a escolherem entre comer, pagar o aluguel, colocar a rodos da casa que puderem para trabalhar em condições por vezes análogas à escravidão, em vez de educar seus filhos adequadamente. Nenhuma crítica aos capitais nacionais e/ou estrangeiros que exploram nossos recursos e destroem as comunidades. Nenhuma crítica à violência seletiva que tem vítimas com endereço, cor e classe social definida. Aparentemente, a imprensa tem seus próprios propósitos.

Não se houve falar nas coisas belas que a humanidade produz. Não nos meios convencionais. Ainda bem que existem escritores e poetas para as verdadeiras críticas e para nos lembrar que a vida continua, que ela é bela e carece de nós para que continue a sê-la. O sono bateu, mas o dia continua. Chega de sonhar acordado.

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